Ansiedade e suas repercussões na boca

Ansiedade e suas repercussões na boca

Ansiedade e suas repercussões na boca

Em conversas particulares com psicólogos e psiquiatras, percebo hoje que vivemos numa sociedade altamente “doente”. O ritmo imposto pelos meios de comunicação modernos faz com que não tenhamos mais tempo para descansar a cabeça. Vamos dormir olhando nossos celulares e computadores, na curiosidade de uma última notícia ou uma mensagem interessante. Passamos o dia com a sensação de que estamos deixando algo sem fazer, tamanha a quantidade de coisas a serem feitas. A ausência de valores superiores desta sociedade faz com que se pense apenas no material, sem se encontrar um refúgio no espiritual, que seria uma ótima válvula de escape (felizmente algumas pessoas ainda têm esta válvula de escape nas atividades físicas).

A situação financeira atual, mais crítica do que as gerações anteriores, aumenta ainda mais as tensões. O consumismo exacerbado (troca de celulares a cada ano, troca de carros com frequência, etc) impede as famílias de formarem um patrimônio financeiro (como ocorria há poucas décadas), o que gera alto nível de ansiedade. A inserção das mulheres no mercado de trabalho agregada à manutenção das atividades maternas naturais obriga estas a ter dupla jornada de trabalho, sobrecarregando-as. A resiliência psicológica torna-se cada vez mais importante.

Logicamente isto tem um preço. Um aumento significativo no número de depressões, isolamentos sociais, ansiedade (com suas repercussões físicas e emocionais), Síndrome do Burn Out, etc. Todos estes episódios relacionados à psique humana têm repercussões na boca. Um destes fatores é o bruxismo, onde o estresse e a ansiedade estão diretamente relacionados a episódios deste transtorno.

Por isto, é fundamental que o profissional esteja atento ao perfil psicológico do paciente.

O bruxismo, que é caracterizado por um aumento não controlado da atividade muscular, pode ser classificado como dinâmico (os dentes ficam raspando) ou estático (os dentes ficam apertando), e é encontrado em pacientes que apresentam:

Ansiedade em níveis mais altos que o normal

Níveis de tensão altos (seja em episódios pontuais, seja em longos períodos)

Emoções negativas ocorridas há pouco tempo

Personalidade compulsiva (pessoas que possuem pouca flexibilidade em relação às adversidades da vida, onde tudo precisa ser feito do seu jeito, do jeito certo, na hora certa, etc)

Agressividade

Frustrações

Hiperatividade

 

Estas situações acima descritas geram, por si só, o aumento da atividade dos músculos mastigatórios, causando os danos que os dentistas precisam combater. Mas a ansiedade e o estresse causam também uma redução de produção de saliva. Isto gera uma sensação de boca seca, que é conhecida como xerostomia. Esta redução da saliva, por si, gera um aumento significativo no número de cáries e problemas periodontais (gengivais). Além disto, o organismo, entendendo que necessita lubrificar melhor a boca, aumenta a contração muscular para estimular a produção de saliva, aumentando o bruxismo.

Vale lembrar um detalhe: músculos mastigatórios são classificados como Músculos Estriados. O alto nível de estresse e ansiedade gera, na verdade, não apenas contração dos músculos mastigatórios, mas de toda a musculatura estriada do nosso corpo, gerando uma série de consequências físicas negativas (corpo enrijecido, dores nas costas, etc). Como exemplo, temos o apertamento das mãos enquanto dormimos. Muitas pessoas acabam tendo lesões na musculatura e tendões das mãos, braço e antebraço, por esta contração contínua desta musculatura. É comum as pessoas que apresentam bruxismo acordarem pela manhã com as mãos cansadas, pela contração noturna desta musculatura.

Muito se discute dentro da odontologia se a oclusão (“encaixe” da mordida dos dentes inferiores com os superiores) tem relação com o bruxismo. O que se tem evidenciado nos estudos científicos é que ela não interfere no bruxismo, visto que nos idosos o bruxismo é bastante reduzido, justamente na faixa etária que mais apresenta alterações de oclusão. Outro fator que indica para esta posição é que o bruxismo ocorre mesmo em pacientes com oclusão adequada, com encaixe perfeito de sua mordida. O bruxismo é mais relacionado a estresse e ansiedade em pacientes na faixa etária dos 25 a 50 anos, em ambos os sexos. E está crescendo muito em crianças, também!

Dentro da classe odontológica, nos últimos anos temos chamado a geração dos adultos com 40 anos ou menos de “Geração Cárie Zero”. Agora podemos chama-la de “Geração Cárie Zero com Dente Quebrado”.

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